Denúncias de assédio envolvendo um pedagogo, que atua em duas escolas estaduais de São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba (RMC), têm ganhado força nos últimos dias. Várias alunas resolveram denunciar o que vinham ando há alguns meses e os relatos geraram até protesto pelos alunos, por terem encontrado o professor na escola. Veja o vídeo abaixo.
Os casos de assédio começaram há pelo menos cinco meses. Neste sábado (21), a Banda B ouviu quatro jovens, que dão cara às denúncias, mas as informações dão conta de que seriam mais vítimas.
As alunas no começo não percebiam que estavam sofrendo assédio. Conforme foram entendendo as “cantadas” e as “indiretas” dadas pelo professor, notaram o crime e começaram a denunciá-lo. Procurada, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) informou que o professor acusado de assédio está afastado das funções sem prazo para voltar. Leia a nota abaixo.

Hoje com 18 anos, a estudante Laura Ajara Lebid contou que começou a sofrer com o assédio do pedagogo há três anos, portanto, quando ainda era adolescente. O caso mais recente aconteceu em junho deste ano.
“No dia 26 de junho, eu estava desmontando a decoração de dia dos namorados, segurando a escada, e ele veio querendo fazer uma brincadeira besta falando que não poderia ficar com o celular ali. O celular estava na minha coxa, no bolso da minha calça, e ele simplesmente pegou o celular na minha perna. Eu me esquivei, ele continuou ali tentando puxar assunto, ninguém deu moral para ele, ele saiu”.
disse Laura Ajara Lebid, de 18 anos.
Laura contou que em outras situações ele tentava puxar assunto, perguntava muito da vida dela e sempre a elogiava excessivamente.
“Falava que eu estava muito bonita, comentava nas minhas fotos, reagia aos meus stories com cara de apaixonado, falando ‘meu Deus’, ‘maravilhosa’. Onde eu ia, ele ia atrás, se eu estava com amigos, ele conversava só comigo, se eu ia até a secretaria, ele parava o que estava fazendo para falar comigo”.
completou Laura Ajara Lebid.
Acontece que a jovem percebeu que a função do pedagogo não era atender às necessidades dela enquanto estudante, mas sim de outras turmas. Ela resolveu denunciar.
“Ele não tinha que ter contato comigo e nem com outras meninas do ensino médio, ele tinha por falta de vergonha na cara mesmo. Se aproximava, falava do corpo das meninas, bem esse tipo de atitude […].Tanto que fiz a primeira denúncia e ele ou a me encarar no colégio, por onde eu ia ele me olhava com ódio”.
concluiu a estudante Laura Ajara Lebid.
Veja o vídeo com o relato completo de Laura:
Outras vítimas
Conforme foram conversando, as jovens acabaram descobrindo que várias delas avam por situações parecidas. Segundo os relatos, o pedagogo sempre usava das mesmas táticas: puxava papo, elogiava excessivamente e forçava uma aproximação que não cabia ao profissional.
“Ele começou com uns comentários maldosos, umas coisas assim que eu não me ligava que era um assédio. Para mim ele só era intrometido em nossa vida, porque perguntava muita coisa da nossa vida. Teve um dia que eu fui lá para conversar com outra pedagoga, ela não estava, e ele ficou perguntando, querendo saber. Falei que eu estava com problemas em casa e ele começou a falar que se eu quisesse eu podia ir morar com ele, que a ex dele era muito parecida comigo, que ela era bissexual e era igualzinha a mim, que eu iria viajar com ele para o Norte nas férias de julho”
contou Alicia Farias Silva, 19 anos.

Outra jovem contou que ele chegou a perguntar a ela se ela tinha namorado. Incomodada, ela optou por mentir.
“Teve um dia específico que ele falou que eu era uma moça muito bonita, simpática, perguntou se eu tinha namorado e se eu não queria ir com ele numa hamburgueria. Falei que eu tinha namorado, mesmo sendo mentira, para ver o que ele iria falar e ele falou que, por eu ter namorado, ele não ia me chamar para sair porque ia pegar mal, mas não pelo fato de eu ser menor na época”
disse Alicia Pacheco, 18 anos.
Como as jovens ficavam desconfortáveis com os assédios e a aproximação forçada, avam a ignorar o pedagogo. E era aí que ele costumava persegui-las, inclusive dando indiretas.
No caso de Camily Vrech de Andrade, 19 anos, uma das primeiras a denunciar o professor, ele chegou a claramente sugerir que ela “visse o currículo” dele para namorar com ela.
“Acabei indo para a escola depois do trabalho, sem comer, então pedi para minha mãe levar comida pra mim. Para não sair da escola sozinha, pedi para ele me acompanhar do lado de fora e pegar com a minha mãe. Ele foi e falou ‘agora vou conhecer a minha sogra, se ela gostar de mim e eu gostar dela, vou pegar o lugar daquele menininho’, no caso meu namorado. Fiquei desconfortável, ignorei e continuei andando. Fui, busquei as coisas e quando voltei ele falou “já que você é maior, posso entregar meu currículo, quando você estiver aceitando, irei te entregar’”
contou Camily.
Como foi ignorado, e Camily denunciou o caso à polícia, o professor começou a persegui-la fora da escola: no trabalho.
“Ele está indo no meu trabalho pelo menos uma vez na semana. Teve um dia que ele foi a primeira vez, vi ele lá, e ele entrou, olhou para mim e se assustou, deu um o pra trás. Depois disso, ele começou a ir mais vezes, mais vezes, até que ele foi e mostrou o BO que ele fez contra mim para o meu gerente, como se estivesse se explicando do caso que estamos acusando ele injustamente”
denunciou a estudante Camily.

Protesto e indignação
Na quinta-feira (19), os alunos de um dos colégios resolveram protestar ao encontrarem com o professor na escola. O homem ainda tentou enfrentá-los, filmando o que estava acontecendo.
“Já tentamos fazer de tudo para que algo aconteça contra ele, como não aconteceu, resolvemos falar para as meninas que denunciem se algo aconteceu com elas também. Foi aí que ele descobriu e acabou acontecendo o protesto”.
explicou Camily.
Veja o vídeo do momento da manifestação na escola:
Buscando Justiça
A advogada Fernanda Araújo, ao saber do caso, ou a orientar e defender as vítimas. Segundo ela, os boletins de ocorrência foram registrados, mas por falta de orientação não foi feita a representação, por isso a investigação não começou.
“Então agora vai ser feita a representação, vamos pedir a abertura de um inquérito. Acreditamos que com a repercussão do caso e com autoridades públicas, políticas, se manifestando, que de fato será investigado”
disse Fernanda Araújo, advogada das vítimas.
Como mulher, Fernanda disse que a intenção é apenas parar o pedagogo. Isso porque entende que a escola deveria ser um local seguro.
“É revoltante, mas o nosso papel agora é fazer com que todos os relatos sejam investigados. Queremos Justiça. Queremos que a polícia investigue com maior rigor possível para podermos proteger os nossos estudantes mesmo”.
pediu Fernanda Araújo, advogada das vítimas.

Professor afastado
A reportagem da Banda B não conseguiu contato com o pedagogo. O espaço fica aberto para caso ele queira se manifestar.
Procurada, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) informou que o professor acusado de assédio não compareceu à instituição. Ele continua respondendo Processo istrativo Disciplinar (PAD), sob condução da Seed.
“Enquanto o procedimento não for concluído o Núcleo Regional de Educação (NRE) da Área Metropolitana Sul avalia proceder com remanejamento do docente para outra função e local de trabalho”
reforçou a Seed, em nota.
Por fim, a Secretaria de Estado da Educação reafirmou seu compromisso com a integridade e segurança de toda a comunidade escolar e disse que “seguirá atuando de forma rigorosa e responsável diante de situações dessa natureza”.

Prefeita se manifestou
Através das redes sociais, a prefeita Nina Singer (CIDADANIA), de São José dos Pinhais, se manifestou explicando que os colégios estaduais são de responsabilidade do Estado. Apesar disso, repudiou a possibilidade do crime vir acontecendo na cidade.
“Queremos deixar claro que não aceitamos nenhum tipo de assédio. Já solicitamos ao Governo do Estado e Secretaria Estadual de Educação, a garantia que as medidas apropriadas ao caso serão tomadas”
disse Nina Singer, prefeita de SJP.
A prefeita ainda se solidarizou com os alunos e reforçou o desejo de que a investigação seja conduzida com a máxima urgência. “Repudiamos veementemente tais atos”.
