Qualidade e produtividade (por Luiz Paulo Vellozo Lucas)
A cultura da Qualidade Total foi fundamental para que a Petrobrás desenvolvesse suas cadeias de fornecedores e subfornecedores
atualizado
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Nos últimos anos do regime militar, a área de planejamento do BNDES , liderada pelos economistas Nildemar Secches e Júlio Mourão, empreendeu um esforço de formulação extraordinário no sentido de renovar as ideias e conceitos sobre o desenvolvimento brasileiro, ainda fortemente influenciado pela estratégia da substituição de importações.
Com importantes mudanças estruturais em perspectiva como a produção de petróleo off shore na bacia de Campos e a emergência do agronegócio exportador, a histórica restrição de balanço de pagamentos parecia em vias de desaparecer. Olhar para a pauta de importações e tentar extrair dela as prioridades para o Brasil não era mais o caminho a seguir. Em 1986 o BNDES, presidido por Marcio Fortes, colocou em seu Plano Estratégico 1987-1990 como sendo seu principal objetivo a “Integração Competitiva do Brasil na economia mundial”.
A hiperinflação atropelou o debate sobre modelos de desenvolvimento e o Governo Collor promove a abertura comercial e o desmonte das legislações de intervenção direta na estrutura produtiva representada pelo controle de preços, autorização de produção, quotas de o a matérias primas, controle istrativo de guias de importação, reserva de mercado entre outros mecanismos. Todos estavam desafiados a adquirir capacidade de oferecer produtos com padrões internacionais de preço e qualidade, sob pena de serem derrotados no mercado pelos importados.
Em novembro de 1990 o governo federal lançou o PBQP- Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, liderado por uma equipe de engenheiros e economistas da Petrobrás e do BNDES cedidos para o Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento. O Brasil tinha penas 18 empresas certificadas pelas normas ISO-9000 e era preciso um esforço muito grande para difundir as praticas mais modernas de gestão, combater as ineficiências e desperdícios para adquirir padrões internacionais e ser competitivo. Os engenheiros Jose Paulo Silveira e Antônio Maciel que estiveram a frente do trabalho de qualificação de fornecedores da Petrobrás foram para Brasília para liderar o PBQP.
A cultura da Qualidade Total foi fundamental para que a Petrobrás desenvolvesse suas cadeias de fornecedores e subfornecedores na busca de petróleo off shore em aguas profundas. Entidades certificadoras foram criadas, normas técnicas foram traduzidas e adaptadas, eventos e prêmios fizeram com que a década de noventa fosse a década da Qualidade no Brasil. Programas de Qualidade e Produtividade nos estados federados e nos diferentes setores da economia foram criados e em dez anos o país já possuía mais de 20 mil empresas certificadas pela ISO-9000.
O PBQP não foi um programa governamental clássico. Não deu o a subsídios e privilégios. Não possuía dotação orçamentaria e baseava-se na mobilização. O setor privado sabia que estava em jogo a sobrevivência das empresas no novo ambiente competitivo. O desperdício precisava ser quantificado e combatido. A capacitação dos gestores e trabalhadores precisava avançar muito. Havia muito que fazer.
O Movimento Brasil Competitivo MBC , a Fundação Prêmio da Qualidade e a Academia Brasileira da Qualidade-ABQ são algumas das instituições que nasceram deste movimento impulsionado pelo PBQP. Inúmeros livros, trabalhos acadêmicos e registros variados de casos de sucesso foram produzidos e uma extensa rede de profissionais de varias especialidades atuando no mercado representam uma massa critica de alta relevância para a preservação e o aperfeiçoamento continuo da cultura da qualidade no Brasil.
* Engenheiro, Mestre em Desenvolvimento Sustentável, ex-prefeito de Vitória-ES e membro da ABQ-Academia Brasileira da Qualidade.