Baptista Jr.: Bolsonaro aventou prisão de Moraes em “brainstorming”
O ex-comandante da Aeronáutica afirmou que, durante reuniões com Bolsonaro e Paulo Sérgio Nogueira, foi cogitada a prisão de Moraes
atualizado
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O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior confirmou, em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), que a prisão do ministro Alexandre de Moraes foi cogitada em “brainstorming” em reuniões com o ex-presidente Jair Bolsonro (PL) que trataram da instauração da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e de um suposto plano para impedir que o presidente eleito em 2022 tomasse posse.
Em depoimento como testemunha da Procuradoria-Geral da República (PGR), realizado nesta quarta-feira (21/5), no âmbito da ação que analisa suposta trama golpista, o ex-chefe da FAB foi questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, se em algum dos encontros com Bolsonaro e o ex-ministro da Defesa, o general da reserva Paulo Sérgio Nogueira, foi levantada a possibilidade de prisão de autoridades.
Baptista respondeu: “Sim, senhor. Do ministro Alexandre de Moraes. Isso aconteceu no ‘brainstorming’ das reuniões. Lembro que houve essa cogitação de prender o ministro Alexandre de Moraes, que era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”, disse.
O depoente ainda ressaltou que, após as eleições de 2022, participou de cinco reuniões no Palácio da Alvorada. Ele contou que se recordava de estar presente no local em ao menos cinco ocasiões: 1º, 2, 14, 22 e 24 de novembro [de 2022] — e em nenhum momento a sós com Bolsonaro.
O ex-comandante, ao ser questionado por Gonet se Bolsonaro questionava o resultado das eleições, apontou que, durante todo o período eleitoral, as Forças Armadas trabalhavam com avaliação de conjuntura. “Estávamos entendendo a sociedade rachada ao meio. Nós sempre trabalhamos com a possibilidade de GLO após o dia 31 [de dezembro de 2022]”, explicou.
Sem solução jurídica
“Na reunião do dia 1º [de novembro de 2022], estavam Paulo Sérgio [ex-ministro da Defesa], três comandantes e Bruno Bianco [ex-advogado-geral da União]. Colocamos todos os resultados da urna, que não encontramos nenhum risco, nenhum problema. O presidente perguntou a Bruno Bianco se havia mais alguma solução jurídica a tomar. Bruno Bianco disse que não”, contou.
“Voltamos dia 2 [de novembro de 2022], no sofá da biblioteca — ministro da Defesa e três comandantes. O presidente estava frustrado com o resultado, me parecia deprimido. Esse assunto de GLO começou a ser abordado nessas outras reuniões. Mas o foco era a entrega do relatório. Em determinado ponto, penso que foi a partir do dia 11, comecei a entender que a GLO que estávamos abordando não era o que estava acostumado a ver as Forças Armadas cumprirem desde 1992, e começamos a ficar desconfortáveis. Pelo menos eu, Paulo Sérgio e Freire Gomes”, explicou a Gonet.
Segundo o ex-comandante da FAB, foi sugerido a Bolsonaro que, caso houvesse algum problema ou crise institucional, estava na hora de chamar outros integrantes do governo, quando o próprio Baptista Júnior sugeriu o nome do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
“A partir do dia 11, começamos a ficar desconfortáveis se a GLO era para caminhoneiros, manifestantes ou outro objetivo”, relembrou. Em seguida, o brigadeiro ressaltou que não lembrava da participação de Torres em nenhuma das reuniões.
Contrariou versão de Freire Gomes
Baptista Júnior contrariou a versão do ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, e afirmou que o então chefe do Exército chegou a determinar a prisão de Bolsonaro caso fosse levado adiante um plano de golpe de Estado.
Questionado por Gonet, Baptista Júnior afirmou que Freire Gomes deu a ordem de prisão a Bolsonaro para o caso de prosseguimento da tentativa golpista.
“Confirmo, sim sr.”, disse ele a Gonet quando questionado sobre a fala de Freire Gomes. “O general é uma pessoa polida, educada, não falou essa frase com agressividade, mas colocou exatamente isso “Se o sr. fizer isso, terei que te prender”, disse o ex-comandante da Aeronáutica ao STF