Oposição no Brasil ecoa ataques de Trump à USAID para desgastar Lula
Críticos do governo Lula tem replicado ataques de Trump e Musk contra a USAID, e acusado a agência de interferir nas eleições de 2022
atualizado
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Visto como uma nova oportunidade de ascensão da direita na América Latina, os primeiros dias do novo mandato de Donald Trump já renderam munição para a oposição atacar e tentar enfraquecer o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O caso mais recente envolve uma suposta interferência da a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) nas últimas eleições presidenciais no Brasil.
Polêmica com a USAID
- Criada durante a Guerra Fria com o objetivo de aumentar a presença internacional dos EUA, e combater o avanço da União Soviética, a USAID é atualmente o maior doador individual de ajuda humanitária ao redor do mundo.
- A agência ou a ser atacada pelo bilionário Elon Musk, chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) de Trump, que acusou a pasta de ser um “ninho de víboras marxistas de esquerda radical”.
- O presidente dos EUA também adotou a retórica de Musk, e classificou a USAID de ser composta por “radicais loucos de esquerda”. Assim como o dono do X, Trump não apresentou qualquer prova que sustente as acusações.
- Trump afirmou, no último dia 4 de fevereiro, que pretende fechar a agência.
A história começou a repercutir em alas da oposição, principalmente entre parlamentares ligados ao bolsonarismo, na última semana, após um ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA fez uma série de acusações contra a agência. Entre elas, um possível trabalho de interferência política em alguns países por meio de financiamento.
No último dia 3 de janeiro, Mike Benz foi entrevistado pelo ex-marqueteiro e conselheiro de Trump, Steve Bannon, e afirmou que Jair Bolsonaro (PL) ainda seria presidente do Brasil caso a USAID não existisse. De acordo com o ex-chefe da divisão de informática do Departamento de Estado dos EUA, a agência teria interferido nas eleições de 2022 por meio de financiamentos para controlar, e censurar, informações sobre o ex-presidente.
As acusações do ex-funcionário do governo norte-americano surgiram após Musk iniciar uma cruzada contra a agência, na tentativa de descredibilizar e minar o trabalho do órgão.
Desde então, a oposição no Brasil tem usado as acusações de Benz, Musk e Trump sobre a USAID ter influenciado a política de países terceiros – sem que provas fossem apresentadas – para voltar a ecoar a narrativa de que as eleições presidenciais de 2022 foram fraudadas.
A retórica foi repercutida principalmente pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), filho de Jair Bolsonaro. Entre 3 e 10 de fevereiro, 36 das 112 publicações do parlamentar no X, entre posts e republicações, foram focadas nos boatos sobre a USAID, segundo levantamento feito pelo Metrópoles.
O parlamentar também ou a apoiar uma iniciativa do deputado federal Gustavo Gayer (PL), que tenta recolher s para que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (I) seja instalada na Câmara dos Deputados para apurar o caso. Até a noite de segunda-feira (10/2), mais de 100 deputados já haviam assinado a petição.
Bolsonaro já assinou acordo com a USAID
Apesar da retórica de ataques contra a USAID por parte da oposição ligada ao bolsonarismo, o Governo do Brasil já assinou um acordo com a agência norte-americana durante a istração de Jair Bolsonaro (PL).
Em março de 2019, Brasília e Washington am uma carta de intenção com o objetivo de lançar um fundo de investimento, no valor de US$ 100 milhões, para ações de desenvolvimento econômico na Amazônia.
Além disso, o Brasil recebeu ajuda milionária do governo dos EUA durante a pandemia de Covid-19 por meio da agência agora criticada pela oposição.
Na época, a USAID enviou centenas de ventiladores pulmonares para o Brasil, após o estado de calamidade de instalar no país, com pacientes inclusive morrendo de asfixia por falta de oxigênio.
Em uma publicação no X em outubro do 2020, Bolsonaro chamou o trabalho entre Brasil e EUA via USAID de “demonstração da sólida parceira” entre os dois países.
“Em mais uma demonstração da sólida parceria entre Brasil e EUA, o Ministério da Saúde recebeu, em setembro, as duas últimas remessas de ventiladores pulmonares doados pelo governo americano via USAID, completando os mil equipamentos prometidos pelo presidente Donald Trump”, declarou o ex-presidente.