Trama golpista: STF ouve 15 testemunhas de Anderson Torres em processo
No total, cinco testemunhas de Anderson Torres prestaram depoimento na manhã desta terça-feira (27/5). Oitivas seguem às 14h
atualizado
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Dossiês de “fraude” em urnas eletrônicas, blitz durante as eleições de 2022 e relatórios de inteligência antes do 8 de Janeiro. Esses foram os temas que dominaram a primeira parte dos depoimentos das testemunhas indicadas pelo ex-secretário de Segurança do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça Anderson Torres – as oitivas desta terça-feira (27/5) no Supremo Tribunal Federal (STF) serão retomadas às 14h.
Torres é réu na ação que apura uma suposta trama golpista que teria como objetivo manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota eleitoral em 2022.
As oitivas são conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo na Corte. É previsto que, no total, 15 testemunhas de defesa de Anderson Torres sejam ouvidas nesta terça (veja lista abaixo).
O primeiro a prestar esclarecimentos foi o delegado da Polícia Federal (PF) Braulio do Carmo Vieira, que atuou como secretário adjunto de Operações Integradas de maio a dezembro de 2021. Ele contou que Bolsonaro convocou Torres para uma live, em julho de 2021, sobre urnas eletrônicas.
Em seguida, foi a vez de Luís Flávio Zampronha, também delegado da PF. Ele exerceu o cargo de diretor de combate ao crime organizado entre abril de 2021 e março de 2022.
Logo depois, depôs Djairlon Henrique Moura, delegado e ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), indiciado por desobediência, prevaricação e omissão por possível participação nas blitze da PRF que tentaram impedir eleitores de votar no processo eleitoral de 2022. “Houve policiamento para todo o Brasil. Não houve direcionamento para qualquer região que fosse”, alegou a testemunha.
A quarta oitiva do dia foi a de Caio Rodrigo Pellim, delegado da PF e diretor de Investigação de Combate ao Crime Organizado entre março e dezembro de 2022. Ele foi seguido por Saulo Moura da Cunha, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
As testemunhas
Entre os nomes indicados por Torres estão delegados da Polícia Federal (PF) e integrantes que ocuparam a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) antes e depois dos atos antidemocráticos do 8 de Janeiro, como a coronel Cíntia Queiroz de Castro, que exercia o cargo de subsecretária de Operações Integradas da pasta — responsável operacional pela formalização dos protocolos de ações dos órgãos de segurança durante os atos.
Também estão na lista o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alessandro Moretti – demitido do órgão em janeiro deste ano –, que chegou a ocupar o cargo de secretário-executivo da SSP-DF no período em que Torres comandou a pasta, entre 2019 e 2021. Outro nome que deve prestar depoimento é Saulo Moura, diretor da Abin durante os atos do 8 de Janeiro.
Torres indicou ainda outros nomes, como os delegados Djairlon Henrique Moura e Leo Garrido de Salles, ambos indiciados pela PF por interferência nas eleições de 2022. Segundo as investigações, eles atuaram para tentar impedir o deslocamento de eleitores no Nordeste durante o segundo turno. O nome do ex-ministro da Educação Victor Veiga Godoy também consta no rol de testemunhas.
Veja as testemunhas de Torres previstas para 27 de maio, a partir das 14h:
Thiago Andrade;
Fabricio Rocha;
Marcio Nunes, delegado e ex-diretor-geral da Polícia Federal (PF);
Leo Garrido de Salles, delegado da PF;
Alessandro Moretti, delegado da PF;
Marcos Paulo Cardoso, delegado da PF;
Victor Veiga Godoy, ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro; e
Cintia Queiroz de Castro, coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e ex-integrante da SSP.
Papel de Anderson Torres
Ao denunciar Anderson Torres, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal integrou uma organização criminosa desde junho de 2021.
De acordo com a acusação, o grupo, que seria liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), teria atuado nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e “utilizou violência e grave ameaça com o objetivo de impedir o regular funcionamento dos Poderes da República e depor um governo legitimamente eleito”, descreveu o PGR.
O primeiro indício da participação de Torres na suposta trama, segundo Gonet, remonta a uma live de Bolsonaro em 2021, na qual o então ministro “contribuiu para a propagação de notícias inidôneas sobre o sistema eletrônico de votação”.
Com relação especificamente aos atos do 8 de Janeiro, Gonet apontou que Torres e outros integrantes das forças de segurança “revelaram descumprimento deliberado do dever que se lhes impunha, no âmbito das suas responsabilidades na segurança pública, de prevenir exatamente as barbaridades ocorridas”.
“A gravidade das informações que deixaram de ser compartilhadas confirma que houve omissão dolosa dos garantes da ordem pública, em prol do plano disruptivo da organização criminosa. Não cumpriram os deveres inerentes à responsabilidade de evitar os eventos danosos”, declarou o procurador-geral.
Anderson Torres nega todas as acusações.
Testemunhas
Até agora, o Supremo já ouviu testemunhas indicadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) – ou seja, de acusação –, além de depoentes apontados pelo colaborador e ex-ajudante de ordens Mauro Cid; pelo general Walter Souza Braga Netto; pelo deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ); pelo ex-comandante da Marinha almirante Garnier Santos; e pelo ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno.