5 designers que levaram Brasília para a Semana de Design de Milão

Anualmente, Milão, na Itália, sedia um dos festivais de design mais importantes do mundo: a Semana de Design de Milão. Exposições, instalações, lançamentos de mobiliário e muitos eventos tomam conta da cidade, que, naturalmente, já respira arte e arquitetura.

Este ano, entre 7 e 13 de abril, enquanto a criatividade uniu os muitos idiomas que circularam pelas atividades, arquitetos e designers que carregam no currículo o DNA brasiliense marcaram presença com peças que evidenciam a potência do design nacional e local. 

A partir de histórias pessoais, mas também dialogando com o legado modernista da capital brasileira, profissionais de Brasília como Ismael Ricardo, Lucas Caramés, Marcelo Bilac, Felipe Zorzeto e Eduardo Daniel de Souza apresentaram seus trabalhos na mais importante vitrine de design do mundo.

Mesa a Forma

Ismael Ricardo se inspirou em um brinquedo educacional infantil, daqueles que estimulam o raciocínio por meio da combinação de formas geométricas, para desenvolver a mesa a Forma. Ao todo, são 180 cubos giratórios, feitos de coquinho de piaçava, uma matéria-prima oriunda da Mata Atlântica brasileira, pouco utilizada no mobiliário, que trazem uma nova dimensão de funcionalidade e estética, transformando um gesto simples da infância em um objeto de design sofisticado e autoral.  

“O grande diferencial está na fusão entre afeto, design e sustentabilidade. Inspirada em brinquedos infantis, a peça desperta uma conexão emocional ao transformar o lúdico em funcional. Os cubos nos pés giram de forma independente, trazendo interatividade e dinamismo. Além disso, o design explora volumes geométricos de forma escultural, equilibrando peso e leveza com o uso preciso da estrutura metálica”, descreve o arquiteto. 

Este ano foi a primeira vez que o profissional apresentou uma criação em Milão, carregando consigo o legado brasiliense – o que lhe enche de orgulho. “Levo comigo não só uma peça, mas um pensamento de design comprometido com identidade, técnica e propósito”, resume. 

Para Ismael, a mesa incorpora princípios fundamentais da herança modernista, como a síntese entre forma e função, a valorização do design como instrumento de transformação social e a busca por uma linguagem estética alinhada à identidade brasileira. “Assim como Brasília propôs uma nova visão de futuro para o país por meio da arquitetura, a mesa propõe uma reconexão entre o design contemporâneo, a sustentabilidade e o fazer artesanal”. 

Banco Estrela

Por anos, Eduardo Daniel de Souza teve a marcenaria como hobby – até, há dois anos, ar a trabalhar profissionalmente no ramo. Formado em jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), ele levou para a maior vitrine do design mundial seu Banco Estrela. A peça faz uma releitura “arrojada” de um mobiliário simples e bastante presente no imaginário popular brasileiro, o banco de madeira. 

 

Poltrona Pescador

Formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Católica de Brasília, Lucas Caramés levou para Milão, este ano, a poltrona Pescador. A peça tem como forte inspiração a cultura da pesca em Salvador, na Bahia – terra natal de Lucas -, homenageando a simplicidade e a conexão dos pescadores com o mar.  

“Acredito que todo o trabalho dos manualistas e a representatividade cultural são os braços fortes da peça. Sem os trabalhos manuais e a construção disso de forma conjunta, não teríamos alcançado o resultado estético e ergonômico da poltrona. O toque aveludado da madeira, o conforto da rede e o aconchego do crochê retratam o descanso após um dia longo de trabalho, e um berço que acolhe esses pescadores”, explica o arquiteto.

 

O diálogo com Brasília, na avaliação de Lucas, remonta aos primórdios da capital federal, quando candangos de todos os lugares do país decidiram apostar na utopia da nova cidade. “Por mais que tenhamos o modernismo encarnado no sangue da arquitetura e design brasiliense, retratar o Nordeste, estando em Brasília, reforça a importância desse povo que ajudou a construir a cidade”, afirma.

Expondo pela terceira vez em Milão, o profissional destaca a importância dessa presença local cada vez mais numerosa, representando “diferentes interpretações da nossa cultura, e isso é muito enriquecedor para o design da nossa cidade”, pontua.

Aparador BIA

Apesar do sangue paulista, Felipe Zorzeto é “cria” da Universidade de Brasília (UnB). Em Milão, ele apresentou o aparador BIA, que “traduz a essência do modernismo brasileiro por meio de sua pureza formal e da combinação autêntica de materiais, representando a diversidade da nossa natureza”.

A peça combina leveza e robustez de maneira harmoniosa e reflete a funcionalidade e os traços puros do modernismo brasileiro, traduzindo-os para o estilo de vida contemporâneo. 

Cabideiro C50

O designer Marcelo Bilac é um dos veteranos quando o assunto é Semana de Design de Milão – este ano foi a nona vez em que foi convidado a expor uma de suas criações na cidade italiana. Desenhado em 2021, ainda no período pandêmico, o Cabideiro C50 homenageia Ceilândia, uma das regiões istrativas do Distrito Federal e cidade onde Bilac reside e trabalha.    

“A obra foi inspirada na caixa d’água, um símbolo marcante localizado ao lado da Feira da Ceilândia, bem no coração da cidade”, descreve. Ela é executada 100% em madeira nobre – maciça Freijó – , uma das principais matérias-primas do trabalho do designer. “⁠O diferencial da minha criação é a liberdade criativa, integrada aos elementos históricos, que são abraçados pelo design e pela arte. Gosto da provocação quase musical, que não a despercebida. O grande risco é que algumas pessoas vão amar e outras vão odiar”, brinca.

irador do movimento modernista, Bilac resgata, de forma subjetiva, seus elementos, linhas e traços, mas projeta uma nova visão voltada para o presente. 

Brasil em Milão

Enquanto Lucas, Eduardo e Felipe participaram da exposição brasileira promovida pela Apex Brasil, com curadoria de Bruno Simões; Marcelo e Ismael foram convidados para integrar uma mostra promovida por uma plataforma que divulga e comercializa o design brasileiro no exterior.

De volta à capital federal, para além das referências, do orgulho e do sentimento de dever cumprido, ficam as trocas e as conexões. “E nos reforçar como grupo tem sido muito legal também, e estarmos juntos significa que estamos fazendo um bom trabalho”, avalia Lucas Caramés. 

Para saber mais, siga o perfil de Vida&Estilo no Instagram