Mostra Arte Subdesenvolvida estreia em Brasília com coquetel animado
Nessa terça-feira (20/5), a mostra Arte Subdesenvolvida, de curadoria de Moacir dos Anjos e produção da Tuîa Arte, estreou no CCBB Brasília
atualizado
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A mostra Arte Subdesenvolvida, de curadoria de Moacir dos Anjos e produção da Tuîa Arte, estreou no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB), nessa terça-feira (20/5), com uma reflexão profunda de um Brasil que, ainda hoje, caminha em busca de seu pleno desenvolvimento.
A vernissage reuniu convidados ilustres para conferir um recorte da visão e resposta dos artistas para o conceito de subdesenvolvimento atribuído aos países econômica e socialmente vulneráveis logo após a Segunda Guerra Mundial, entre as décadas de 1930 e 1980.
A exposição apresenta obras produzidas por mais de 40 artistas durante o mesmo período. Apenas o Inventário dos Sonhos, do jovem artista Randolph Lamonier, que traz uma leitura contemporânea sobre os desejos de uma população que “ainda persiste nessa classificação de emergente”, como define Moacir dos Anjos, foi produzida especificamente para a mostra.

Para Moacir dos Anjos, curador e pesquisador do projeto, o ponto de partida da exposição é a inquietação dos artistas em produzir uma visão própria da história de um Brasil que carrega esse título. “O que é o subdesenvolvimento senão uma discussão política, social e cultural do nosso país? Esse conceito foi consolidado nos anos 1940, deixando claro que não era algo ageiro ou que iria embora por si próprio”, reflete.
O termo subdesenvolvimento não é mais utilizado hoje em dia. Por outro lado, Moacir traz para a exposição a ideia de que, mesmo com a mudança de nomenclatura – emergente, em desenvolvimento – a ideia segue atual diante dos desafios enfrentados por grande parte da população brasileira.
“Mesmo lá atrás, a fome é algo identificado pelos artistas como o traço fundamental e principal de suas obras. Essa preocupação emerge no final desse período como algo importante, por ser um indicador da falência, talvez, ou da incapacidade de superarmos o desenvolvimento. Considero que a mostra seja uma maneira até de nos mobilizarmos para enfrentar aquilo que define o subdesenvolvimento”, ressalta Moacir.
O curador também reflete que a ideia de apresentar a arte a partir desse prisma está muito longe de ser um ato depreciativo. Para ele, se assumir como subdesenvolvido é um o para o enfrentamento.
Exposição Arte Subdesenvolvida encerra seu percurso na capital federal
A exposição reúne mais de 200 obras e documentos de artistas fundamentais da cultura brasileira, como Candido Portinari, Anna Maria Maiolino, Abdias Nascimento, Lygia Clark, Glauber Rocha, Cildo Meireles, Solano Trindade, Carolina Maria de Jesus, entre muitos outros. O projeto já percorreu três cidades brasileiras: São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

A capital federal foi escolhida para finalizar o percurso com seleção que inclui pinturas, fotografias, livros, vídeos, cartazes, áudios e instalações, todos articulados em torno do impacto do subdesenvolvimento na vida brasileira.
“Eu trabalho com o Moacir há alguns anos. Nessas trocas de ideias, eu soube da pesquisa que ele se debruça há cerca de 30 anos. Foi inevitável não pensar em tornar todo esse trabalho em uma grande exposição. A gente já recebeu mais de 360 mil visitantes desde que começamos a circular no Brasil. Isso é super importante”, comenta Bruna Neiva, produtora da exposição.
Para conseguir retratar o percurso da história cultural e artística do Brasil ao longo de oito décadas, o projeto contou com a cenografia assinada por Gero Camilo. O expert criou um trajeto visual guiado pelas cores e texturas inspiradas em sentimentos de escassez e resistência.
“Pensamos uma expografia que fosse fluida e intensa. Durante nossa imersão, teve uma hora que pensamos – Estamos amarelos de fome. Também lembrei da expressão da minha avó ‘roxo de fome’ e nos guiamos por esses módulos”, explica.
A iluminação, assinada por Caco Tomazelli, também ajuda a compor uma atmosfera de imersão e contemplação dos cinco eixos temáticos da exposição que percorrem os principais momentos da história recente.
O primeiro foi intitulado Tem Gente com Fome. Esse trecho reúne obras e textos que introduzem o conceito de subdesenvolvimento no Brasil, entre os anos 1930 e 1940. Logo após, os convidados podem observar o Trabalho e Luta, que destaca produções que denunciam a exploração e exalta as mobilizações por direitos e dignidade no trabalho.
O Mundo e Movimento é a terceira etapa da mostra. Nessa parte, os artistas apresentam a efervescência cultural dos anos 1960, com documentos do Movimento Cultura Popular (M), de Recife, e do Centro Popular de Cultura (C) da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro.
O penúltimo eixo trata da Estética da Fome, onde fica evidente como a pobreza se tornou tema central de uma arte combativa e inovadora, com obras de Hélio Oiticica, Glauber Rocha e o Grupo Opinião. Por fim, os convidados observam o Brasil é Meu Abismo, que concentra obras produzidas durante a ditadura militar, em meio ao silêncio imposto pela repressão e à perplexidade com os rumos do país.
Os sonhos da população brasileira
A mostra também reserva espaço para a produção contemporânea. Um dos destaques é a instalação de Randolpho Lamonier que mapeia os sonhos de consumo da população brasileira, colhidos em entrevistas feitas nas ruas.
“Eu comecei entrevistando a minha mãe e perguntei o que ela faria se o dinheiro não fosse um problema. Ela revelou que seu maior sonho era ter um pedaço de chão para plantar. Depois, meu pai. Ele disse que queria uma casinha pequena e uma lambreta. A partir daí, eu fui abrindo para pessoas mais ou menos conhecidas e depois completamente desconhecidas”, comenta.
A surpresa das respostas diante de pergunta aberta para Randolpho Lamonier foi ver que as pessoas parecem ter dificuldades em sonhar. “Elas querem uma casa própria, cuidar dos filhos, sair de férias, sair da miséria, parar de catar lixo”, revelou.
Coquetel de abertura com brasilidades
Para celebrar a chegada da exposição Arte Subdesenvolvida ao CCBB Brasília, a organização do evento promoveu um coquetel animado com a participação do samba de roda do quadradinho, o Samba da arinha, que deu o tom verde e amarelo para a estreia. O buffet da inauguração seguiu o mesmo formato e garantiu pastéis e cerveja para todos os presentes.

“Tudo aqui é a cara do brasileiro. Nosso desejo é que essa exposição tenha uma entrada com o pé direito. É uma obra muito emocionante e a gente espera que os brasilienses aproveitem ela muito bem”, celebra o gerente geral do CCBB Brasília, André Giancotti.
A mostra segue em cartaz até 3 de agosto de 2025, com visitação de terça a domingo, das 9h às 21h.
Assista ao vídeo com os melhores momentos da visita pela exposição:
Veja quem esteve presente no lançamento da exposição Arte Subdesenvolvida, pelo olhar de Nina Quintana:



















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