Rotina “ocupada” dos filhos de Virginia é prejudicial? Experts avaliam
A rotina dos filhos da influenciadora Virginia Fonseca chama atenção nas redes sociais e causa preocupação quanto ao excesso de atividades
atualizado
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Quem acompanha a rotina da influenciadora Virginia Fonseca já observou que o estilo de vida da família é corrido. A agenda intensa, contudo, não atinge apenas a empresária e apresentadora, ou o marido, o cantor Zé Felipe. Os filhos, Maria Alice, de 4 anos, Maria Flor, de 3, e José Leonardo, de oito meses, também não têm moleza.
Família “influenciadora”
- Juntos, a influenciadora, empresária e apresentadora Virginia Fonseca e o cantor Zé Felipe somam mais de 81,2 milhões de seguidores nas redes sociais.
- A rotina da família é o conteúdo mais explorado pela mãe de Maria Alice, Maria Flor e José Leonardo.
- Nos stories da influenciadora, é possível observar o número de atividades que as crianças praticam, incluindo futebol, karatê, balé, hipismo, natação, entre outras.
- O caçula, José Leonardo, mesmo que em um ritmo menos acelerado que as irmãs, também tem uma rotina regrada, com sessões de fisioterapia e aulas de natação.
Usando como exemplo o cotidiano dos netos do cantor sertanejo Leonardo, a coluna Claudia Meireles conversa com duas experts em saúde mental: a psicanalista clínica e orientadora educacional Kennya Fernandes e a psicóloga clínica Paula Cruz. O objetivo? Entender se existe um limite saudável de atividades diárias na infância e quais são as consequências do “excesso” de obrigações para o desenvolvimento dos pequenos.
Infância precisa de tempo livre
De acordo com a psicanalista Kennya Fernandes, antes de julgar se a quantidade é exagerada ou não, é preciso entender o que essa ocupação representa para as crianças e para os pais.
Segundo a profissional, mesmo que as atividades bem escolhidas possam aprimorar habilidades e ampliar o repertório dos filhos, como brincar, fantasiar e elaborar o mundo interno, a ausência de tempo livre pode sufocar a capacidade de desenvolver saúde mental e equilíbrio.
Do ponto de vista da neurociência, Kennya adverte que é necessário entender que o cérebro da criança precisa de pausas para consolidar aprendizados e regular suas emoções. “Uma agenda superlotada pode criar uma desconexão entre o fazer e o ser e se desenvolver, podendo, inclusive, causar ansiedade”, detalha.
A psicóloga Paula Cruz complementa que o equilíbrio e a moderação são pontos-chave para garantir uma infância saudável. “Essas atividades podem ser extremamente benéficas: promovem habilidades sociais, autoestima e até ajudam no desenvolvimento cognitivo. O problema começa quando o excesso toma o lugar do tempo livre e do brincar espontâneo — fundamentais para o amadurecimento emocional”, afirma Cruz.
Existe um limite saudável de atividades e qual o papel dos responsáveis?
De acordo com ambas as especialistas, existe, sim, um limite saudável quando o assunto é preencher a agenda dos pequenos. O motivo? A importância do tédio para o processo criativo não só para as crianças como para os adultos.
“É no momento vazio da criança que a criatividade aflora e, muitas vezes, aparecem suas melhores construções mentais. Se não houver equilíbrio, o desenvolvimento emocional da criança e do adolescente pode ficar comprometido”, alerta Kennya Fernandes.
Paula Cruz reforça que um bom termômetro para entender esse limite é observar como as crianças estão se comportando diante das atividades em sua rotina diária. “A criança está animada ou exausta? Dorme bem? Tem tempo para brincar livremente? Quando a criança não tem tempo nem para se entediar, é sinal de que algo está exagerado”, avalia a psicóloga.

Na hora de incluir atividades no dia a dia dos pequenos, Kennya reflete que os pais e responsáveis devem ter uma escuta ativa sobre o desejos expressos pelas crianças. “Eles têm interesses e curiosidades naturais. É claro que o papel dos pais é estabelecer os limites e propor possibilidades, mesmo sem um interesse inicial. Entretanto, é importante entender os desejos internos das crianças e conduzir essas “obrigações” com diálogo e bons argumentos”, ressalta a orientadora educacional.
Para a psicóloga Paula Cruz, existe ainda um outro fator que interfere na hora de estabelecer limites e definir atividades. “Vivemos uma era de hiperprodutividade, e essa lógica também invadiu a criação dos filhos. Muitos pais sentem que precisam “preparar” as crianças para um futuro competitivo — e que cada minuto deve ser aproveitado”, avalia.
Nesse cenário, as redes sociais, segundo Cruz, criam uma vitrine de desempenho infantil. “Isso gera comparação, ansiedade e uma pressão, muitas vezes inconsciente, de que “fazer muito” é sinônimo de sucesso”, argumenta.

A psicanalista Kennya Fernandes pede, então, que os responsáveis tenham cuidado para não espelhar alguns desejos adormecidos nos pequenos. “Vejo muitos pais projetarem seus medos, suas frustrações e seus ideais nos filhos. Mesmo que suas intenções sejam positivas, muitas vezes, eles estão ocupando um lugar narcísico. Torná-los “excepcionais” é uma forma inconsciente de validar a sua própria identidade”, pontua a profissional.
Infância leve fortalece os pequenos
É certo que garantir uma infância repleta de possibilidades não é nada prejudicial. Do ponto de vista da psicologia, uma infância saudável deve, sim, incluir atividades extracurriculares — desde que sejam escolhidas com equilíbrio e respeito ao ritmo da criança. Ambas as profissionais chamam atenção apenas para o excesso.

“No fim das contas, talvez o maior desafio não seja escolher entre natação ou balé, mas, sim, escutar de verdade o que a criança demonstra querer. Os pais têm o papel de apresentar o mundo para a criança — sugerir, estimular e até insistir um pouco em algumas experiências que possam ser benéficas, como um esporte ou instrumento musical. Mas o interesse e o prazer da criança devem ser levados em conta”, conclui Paula Cruz.
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