Cannes: Anora, de Sean Baker
Cada novo filme do realizador americano leva a um projeto maior e mais ambicioso, sempre sem perder de vista seus queridos marginais.
atualizado
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Existem alguns diretores que o Festival de Cannes vem alimentando desde cedo. Anos atrás, um filme chamado “The Florida Project”, de Sean Baker chamou atenção em uma das mostras secundárias. No final do ano, recebeu até uma indicação ao Oscar. Desde então, Baker vem subindo, aparecendo na mostra principal em 2021, com “Red Rocket”, e agora, com “Anora”.
O filme é uma exploração envolvente de amor, poder e identidade no vibrante cenário do Brooklyn. O filme acompanha Anora (Mikey Madison), uma stripper que se envolve com Vanya (Mark Eydelshteyn), quando este entra no stripclub e pede atendimento de alguém que fale Russo. Vanya é filho de um oligarca rico, e por isso consegue tudo o que quer, ainda mais no planeta de Vladimir Putin. Como poderia até ser esperado, à la Pretty Woman, os dois vivem um romance relâmpago, marcado por indulgências luxuosas. Diferentemente da referência, o nível de amor entre os dois pode ser mais por conveniência, dado a disparidade sócio-econômica entre os dois. Isso fica mais aparente ainda após um casamento impulsivo em Las Vegas. Enram em cena os capangas e os próprios pais de Vanya, decidido a anularem o casamento legalmente.
É neste momento que o filme muda de tom: a comédia romântica-capitalista se transforma num thriller cheio de tensão, aonde o roteiro constantemente ameaça a vida de sua protagonista. são executadas com precisão, mantendo o público envolvido durante seus 139 minutos de duração. A abordagem humanista característica de Baker é evidente enquanto ele se aprofunda nas vidas de indivíduos marginalizados, apresentando suas histórias com empatia e autenticidade. O elenco de apoio, particularmente a interpretação de Igor (Yura Borisov), acrescenta profundidade à narrativa, aumentando a ressonância emocional do filme.
A direção de Baker equilibra magistralmente elementos de comédia maluca com drama intenso, criando um filme que é divertido e instigante. A dinâmica entre Ani e Vanya oferece um comentário matizado sobre as disparidades socioeconômicas e as complexidades dos relacionamentos humanos. Mikey Madison oferece uma performance de destaque como Ani, capturando a resiliência e vulnerabilidade da personagem com profundidade notável. Sua interpretação recebeu aclamação da crítica, posicionando-a como uma forte concorrente na próxima temporada de premiações.
Se Pretty Woman situava este relacionamento num conto de fadas, Anora o insere dentro da realidade do capitalismo tardio. A exploração de temas complexos pelo filme, reforçada por performances estelares, o torna um destaque no cinema contemporâneo. “Anora” é imperdível para aqueles que buscam um filme que desafie as convenções ao mesmo tempo em que entrega uma história cativante.
Avaliação: Ótimo (4 estrelas)