Combustíveis: mercado adota cautela sobre possível “vitória” de Haddad
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles dizem que reoneração dos combustíveis é bem-vinda, mas cobram do governo um maior detalhamento
atualizado
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A decisão anunciada no fim da tarde desta segunda-feira (27/2) pelo Ministério da Fazenda de retomar impostos sobre combustíveis foi bem recebida pelo mercado, mas precisa ser mais detalhada para se saber se, de fato, a equipe econômica do governo saiu vitoriosa no embate com a ala política.
A avaliação é de agentes do mercado, economistas e especialistas no setor de óleo e gás ouvidos pela reportagem do Metrópoles após o anúncio.
De acordo com o governo federal, os combustíveis fósseis deverão ser mais onerados, devido ao impacto climático. Até o momento, não há previsão em torno da alíquota a ser cobrada sobre cada combustível. A expectativa da pasta é a de uma recuperação integral da arrecadação do setor, de pouco mais de R$ 28 bilhões. A desoneração do diesel e do gás natural está mantida até o final do ano.
“A decisão de reonerar combustíveis vai na direção correta, mas é preciso aguardar a forma como isso será feito, já que há risco de uso da Petrobras, que poderia absorver parte da fatura”, alerta Gabriel Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset.
“Apesar de a reoneração ser o correto a ser feito do ponto de vista fiscal, social e ambiental, eu gostaria de esperar os detalhes da proposta para avaliar de forma mais assertiva, particularmente diante do risco de soluções híbridas que imputem parte do custo à Petrobras”, completa Barros.
Benito Salomão, doutor em economia pelo PPGE-UFU, segue a mesma linha e vai além: critica o choque entre as alas política e econômica do governo.
“Para sabermos se houve uma vitória da equipe econômica, precisamos saber o teor dessa medida. Se é realmente uma reoneração dos combustíveis ou se é mais uma medida como o pacote econômico anunciado no começo do ano, uma coisa meio vaga, um plano de intenções. Não dá para dizer se fortalece o ministro Haddad porque não sabemos ainda o teor do que será apresentado. É uma ala política que sabota a ala econômica. Isso pode cobrar um preço elevado mais adiante”, afirma.
“Não é possível ter em um único governo uma ala política que fale uma coisa e uma ala econômica que fale outra. Este governo não conseguiu estabelecer uma agenda exatamente porque existem alas que não atuam de forma sinérgica. Isso é preocupante”, critica Salomão.
David Zylbersztajn, ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e um dos maiores especialistas do país na área de energia, também prefere adotar cautela ao comentar o anúncio do governo.
“Ainda não detalham a sistemática. Falta a fórmula para não prejudicar o consumidor, não alterar a arrecadação e agradar à classe política”, ressalta.