“Branca, bonita e rica”: relator sugere arquivar ação contra vereadora
Marcelo Messias (MDB) disse que fala aconteceu durante “debate acalorado” e que vereadora não teve intenção de discriminar
atualizado
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O vereador Marcelo Messias (MDB), relator da representação contra a vereadora Cris Monteiro (Novo), que disse na tribuna da Câmara Municipal que uma mulher “branca, bonita e rica” incomoda, recomendou o arquivamento da denúncia contra a parlamentar na Corregedoria da Casa.
No parecer que defende a “não issão” da representação, o vereador afirma que a fala de Monteiro aconteceu durante um “debate acalorado” e que não houve intenção clara de ofender ou discriminar.
O emedebista, que assim como Monteiro faz parte da base do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na Casa, disse, ainda, que o episódio não provocou prejuízo à imagem da Câmara Municipal.
Relembre o caso
- Cris Monteiro (Novo) afirmou na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo que “uma mulher branca, bonita e rica” incomoda, durante a votação do reajuste dos servidores municipais.
- A vereadora defendia a proposta de reajuste do prefeito Ricardo Nunes (MDB), rechaçada pelos sindicatos e pela oposição, quando ou a bater boca com alguns sindicalistas e vereadores do PSol, como Luana Alves, que é negra.
- “Luana, eu estou falando. Quando você falou, não abri a boca. Eu escutei todos vocês calados. Agora, quando vem uma mulher branca aqui falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês (veja vídeo abaixo).”
- Depois do protesto dos sindicalistas, que gritaram “racista” para a vereadora, ela se desculpou pela frase. “Lamento profundamente se alguém se sentiu ofendido com a minha fala. Espero que com essas palavras nesse momento, as pessoas que se sentiram ofendidas, não foi minha intenção absolutamente ofender ninguém”, disse.
“Percepção pessoal”
No parecer assinado no dia 28 de maio, Messias argumentou que, ainda que a fala de Monteiro possa ser considerada “inadequada ou infeliz”, não há elementos para dizer que houve “intenção deliberada de promover discriminação racial ou de ofender a instituição”.
Segundo ele, a vereadora expressava uma “percepção pessoal sobre o tratamento que vinha recebendo”.
“Ainda que a fala possa ter causado incômodo, ela foi utilizada em tom reativo e retórico, não para inferiorizar ninguém, mas para expressar como acreditava estar sendo percebida por seus opositores naquele momento”, disse Messias no documento. “Portanto, a fala está centrada em si mesma, e não promove discurso de ódio, exclusão ou superioridade racial, econômica ou de gênero”, afirmou.
O vereador citou que o contexto de “debate político acalorado” também deve ser levado em conta, assim como o fato de que a parlamentar se retratou após o episódio. O parecer diz ainda que a fala não causou “dano concreto, grave e irreparável” à imagem da Câmara de Vereadores. Segundo Messias, uma eventual punição na Corregedoria seria desproporcional aos fatos.
“A responsabilização por quebra de decoro, especialmente quando envolve uma penalidade tão extrema quanto a perda de mandato, exige mais do que a insatisfação de parte dos parlamentares ou da população”, afirmou o relator.
Racismo
A representação na Corregedoria foi aberta pela vereadora Luana Alves (PSol). Ao pedir a abertura de um processo disciplinar contra Monteiro, Luana afirma que a fala da colega deve ser compreendida no contexto do racismo estrutural e defendeu uma punição.
“Ao destacar sua branquitude, beleza e riqueza como elementos de superioridade e motivo de incômodo diante da fala de uma vereadora negra, a parlamentar expressa uma estrutura de poder racializada, que reforça estereótipos discriminatórios e hierarquias raciais, incitando a desvalorização do lugar de fala da mulher negra no espaço público”, diz a representação.