Farra do INSS: PF suspeita que funcionários levavam dinheiro em avião
Viagens frequentes de sócio do lobista Careca do INSS, que chefiava call center das fraudes, levantaram suspeitas em relatórios da PF
atualizado
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A Polícia Federal (PF) suspeita que um dos investigados no esquema bilionário de fraudes contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) transportou dinheiro vivo em aviões durante uma série de viagens feitas entre Brasília e Belo Horizonte (MG) no auge da farra dos descontos indevidos, revelada pelo Metrópoles.
Domingos Sávio de Castro, que é sócio do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, intensificou, desde novembro de 2023, uma rotina de viagens entre a capital federal e a capital mineira, onde ficam as sedes de duas entidades investigadas nas fraudes contra aposentados. Segundo a PF, os intervalos entre as viagens domésticas chegaram a ser de 24 horas.
A investigação mostra que as duas associações mineiras — União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos (Unaspub) e Associação Brasileira dos Contribuintes do Regime Geral da Previdência Social (Abrasprev) — fizeram movimentações financeiras relevantes em datas coincidentes com as viagens de Castro para Belo Horizonte.
“Isso pode indicar que as viagens são utilizadas para discussões ou ações relacionadas a essas transações”, diz a PF no inquérito.
Domingos Castro comandava duas empresas de call center — Callvox e Trustrust — que atuavam para o Careca do INSS junto às entidades da farra do INSS.
Uma telefonista que trabalhou nelas contou ao Metrópoles como funcionava o serviço de atendimento a aposentados lesados que buscavam ressarcimento e disse que os funcionários ganhavam viagens para Belo Horizonte, como uma espécie de benefício.
Segundo ela, as viagens ocorriam mensalmente com grupos de cerca de 15 pessoas. Lá, os funcionários do call center ganhavam vouchers para comprar perfumes importados, jantares em restaurantes caros e eios turísticos. Para a PF, os “acompanhantes frequentes” das viagens de Castro poderiam ter atuado “como intermediários ou transportadores” de dinheiro.
“O padrão de viagens é consistente com operações de transporte de valores. A alta frequência, os intervalos curtos e o número elevado de ageiros sugerem logística para movimentação de dinheiro físico”, afirma a PF. A investigação estima que cada ageiro pode transportar R$ 5 milhões, em notas de R$ 100, em cada bagagem de mão permitida nos voos.
Outra constatação dos investigadores é que as viagens começaram a se intensificar em novembro de 2023, período em que a fraude dos descontos de mensalidade associativa chegou ao auge. Nessa mesma época, segundo relato da funcionária, os call centers do Careca do INSS aumentaram consideravelmente o número de funcionários.
Viagens e pagamentos
- Além de idas frequentes para a capital mineira, a PF destaca duas viagens internacionais de Domingos Castro: Argentina e Miami.
- A ida para os Estados Unidos, com agem pelo Panamá, durou menos de 24 horas, e foi acompanhada de Adelino Rodrigues Júnior, que era o gerente do call center da farra dos descontos.
- Para a polícia, as viagens a Miami e Panamá podem “sugerir ligações com contas em paraísos fiscais, conhecidos por ocultar movimentações financeiras ilegais”.
- Tanto Castro quanto Rodrigues Junior são sócios e já tiveram procurações legais para representar associações investigadas: Abapen e Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA).
- A PF constatou que Castro recebeu, em sua conta pessoal, R$ 4,8 milhões de uma das entidades, e enviou, da mesma conta, R$ 1,5 milhão a Rodrigues Júnior.
- Ainda de acordo com a investigação, Rodrigues Júnior enviou recursos para a esposa do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira Filho, afastado do cargo no dia da Operação Sem Desconto, em abril, sob suspeita de receber propina das entidades da farra dos descontos.
- A PF afirma que, ao todo, pessoas físicas e jurídicas relacionadas a Domingos Castro receberam mais de R$ 10,5 milhões de empresas intermediárias relacionadas às entidades associativas.