Fila para transplante de córnea dobrou no Brasil. Estudo lista gargalos
Espera por procedimento que permite recuperar visão se tornou maior e há estados em que não há bancos para armazenar tecidos
atualizado
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No Brasil, 24,3 mil pessoas aguardam para realizar transplante de córnea. A fila de pacientes à espera do procedimento praticamente dobrou após a pandemia de Covid. Em 2019, eram 12,2 mil inscritos, segundo o Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
Uma pesquisa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), divulgada nesta segunda-feira (22/5), traça um mapa da população que aguarda por atendimento e mostra os gargalos que têm represado o procedimento.
O transplante de córnea é a operação cirúrgica que realiza a substituição total ou parcial da parede anterior do olho. O método permite reverter doenças que atingem córnea e que podem levar à cegueira, como a ceratocone e a ceratopatia bolhosa.
“Temos muitas famílias interessadas em doar, temos médicos o bastante para realizar os procedimentos no país, o que nos falta é a estrutura e a organização para colocar isso a serviço da população. O primeiro o para resolver a questão é dar transparência aos números e entender como se aproximar deles”, ressalta o presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino.
Segundo a avaliação feita pelo CBO, entre 2012 e 2022 foram feitos 86 mil transplantes de córnea no Brasil, mas, nos últimos anos, a produtividade caminha a os lentos. Em 2020, por causa das restrições da pandemia, foram realizados apenas 4,3 mil transplantes do tipo.
Desde então, os números não retornaram ao patamar anterior ao coronavírus, quando sempre superavam os 8 mil procedimentos. Em 2022, por exemplo, melhor ano desde 2019, foram realizados 7,8 mil transplantes.
Perfil dos transplantados
O público que mais realizou o procedimento é o de pessoas com idade entre 40 e 69 anos, que concentra 39,2% dos transplantados. Em segundo lugar, aparecem os adultos de 20 a 39 anos, que somam 27% dos atendimentos.
“É uma população ativa economicamente, pessoas que poderiam estar trabalhando, mas que se aposentam e am a ser pessoas com deficiência por conta da espera de um tratamento e que, com um transplante, conseguiriam retornar a uma vida plena”, pondera a primeira secretária do CBO, Wilma Lélis.
Gargalos na estrutura
A distribuição da infraestrutura necessária para o procedimento é desigual no território nacional. Segundo os dados do CBO, 25% dos transplantes de córnea do Brasil são realizados na Região Nordeste e 13% no Sul. Ainda assim, o Sul do país conta com 13 bancos de tecidos oculares, um a mais que o Nordeste. Em três estados, Acre, Amapá e Roraima, falta essa estrutura.
“Ainda não voltamos a realizar os procedimentos na quantidade que precisamos. Não é uma questão de apenas ter mais doadores de córnea no país, precisamos melhorar a logística de distribuição para poder zerar a fila e atender a todos”, pontua Wilma.
“Precisamos de uma melhor organização, pois sabemos que, com mais captação de córneas, conseguiremos fazer mais transplantes. O problema é que os sistemas são regionalizados e, muitas vezes, enfrentamos dificuldades de fazer a oferta circular pelo país”, conclui o diretor-tesoureiro do CBO, Frederico Pena.
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