Veja só, Lula, a Rússia de Putin usou o Brasil como fábrica de espiões
Uma reportagem do New York Times mostra como a Rússia de Putin usou o Brasil para que espiões forjassem identidades e biografias brasileiras
atualizado
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O New York Times publica hoje, com destaque, uma reportagem sobre como a Rússia de Vladimir Putin usou o Brasil como base para que espiões forjassem identidades brasileiras, com documentos aparentemente verdadeiros, e construíssem uma história de vida pessoal e profissional crível o suficiente para funcionar como cobertura para as suas operações de espionagem em outros países.
Por que o Brasil? Porque o aporte brasileiro é um dos mais aceitos do mundo, porque temos uma diversidade étnica e cultural que permite a pessoas com características marcadamente europeias se arem por brasileiras, sem levantar suspeitas, e também porque, no Brasil, é mais fácil confeccionar certidões de nascimento com dados fajutos.
“Os espiões apagaram os rastros do seu ado russo, abriram negócios, fizeram amigos, tiveram casos amorosos — experiências que, com o tempo, se tornaram os alicerces de identidades inteiramente novas. Grandes operações de espionagem russas já foram descobertas no ado, inclusive nos Estados Unidos, em 2010. Mas esta era diferente. O objetivo não era espionar o Brasil, mas se tornar brasileiro. Uma vez encobertos por enredos confiáveis, eles partiriam para Estados Unidos, Europa ou Oriente Médio — onde, enfim, entrariam em ação”, diz a reportagem do jornal americano.
A fábrica de espiões foi descoberta pela Polícia Federal, cuja investigação minuciosa, nos últimos três anos, contou com a ajuda de serviços de inteligência de países ocidentais.
Nove espiões russos foram identificados ao todo. Seis deles tiveram as suas reais identidades reveladas só agora, pela reportagem do New York Times. Acredita-se que conseguiram escapar para a Rússia.
Tudo começou em abril de 2022, com a informação reada pela CIA à Polícia Federal de que um sujeito chamado Victor Muller Ferreira, que viajava com aporte brasileiro, havia pleiteado um estágio no Tribunal Penal Internacional, na Holanda, a instância que havia começado a investigar os crimes de guerra cometidos por Vladimir Putin et caterva na Ucrânia.
Na verdade, Victor Muller Ferreira era o russo Sergey Cherkasov, que estava, naquele momento, a bordo de um avião para São Paulo. Ele acabou preso por falsidade ideológica, depois de a PF descobrir que os seus documentos brasileiros, genuínos, haviam sido confeccionados a partir de informações mentirosas.
A Rússia pediu a sua extradição, que foi negada, usando do expediente manjado de recuperar espiões sob o falso pretexto de que são apenas criminosos comuns — Sergey Chersakov, disseram os russos, seria um traficante de drogas. Abordei o caso dele em um artigo publicado em 2023. Sergey Chersakov era apenas a ponta do iceberg.
A reportagem do New York Times, reproduzida integralmente na imprensa brasileira, deveria ser lida por Lula. E, depois da leitura, ele deveria corar ainda mais de vergonha por ter participado alegremente daquela pantomima de Vladimir Putin em Moscou, como se o tirano e a sua corja fossem grandes amigos do Brasil.