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A ONU anunciou, na noite de quarta (21/5) para quinta-feira (22/5), que recebeu e voltou a entregar ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Israel impõe um bloqueio total ao enclave desde o dia 2 de março, mas cedeu à pressão internacional e anunciou nesta semana uma retomada limitada da distribuição.
Na quarta-feira, “as Nações Unidas coletaram cerca de 90 carregamentos de caminhões no ponto de agem de Kerem Shalom e os enviaram para Gaza”, declarou Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, em um comunicado.
A assessoria de imprensa do governo de Gaza, controlado pelo Hamas desde 2007, confirmou que, até agora, 87 caminhões de ajuda entraram no enclave, em uma mensagem publicada na rede Telegram.
Israel já havia anunciado a entrada, a partir desta quarta-feira, de 100 caminhões de ajuda humanitária da ONU em Gaza, carregados com farinha, alimentos para bebês e materiais médicos, após a liberação de 93 caminhões na terça-feira e cerca de dez na segunda-feira.
Mas nenhuma das cargas conseguiu sair do ponto de agem de Kerem Shalom, na fronteira entre Israel, a Faixa de Gaza e o Egito. Essa zona funciona como um terminal logístico onde cargas humanitárias e comerciais são transferidas dos caminhões israelenses para os veículos palestinos.
As autoridades israelenses haviam autorizado as equipes da ONU a “ar por uma zona muito congestionada, que não consideramos segura e onde saques eram muito prováveis, dadas as privações prolongadas” das últimas semanas, explicou mais cedo Stéphane Dujarric.
Para as Nações Unidas, o volume de ajuda é ínfimo diante das necessidades dos habitantes de Gaza. Antes do início da guerra, em 7 de outubro de 2023, cerca de 500 caminhões de ajuda humanitária entravam diariamente no enclave.
Cessar-fogo temporário?
Após uma trégua de dois meses, o Exército israelense retomou sua ofensiva em 18 de março em Gaza e tomou grandes áreas do território.
O governo de Benjamin Netanyahu anunciou no início de maio um plano para a “conquista” de Gaza, que Israel ocupou de 1967 a 2005, exigindo o deslocamento interno da “maior parte” dos 2,4 milhões de habitantes. No sábado, os militares israelenses iniciaram uma ofensiva no enclave, com o objetivo declarado de libertar os reféns e destruir o Hamas.
Mas “se houver uma opção de cessar-fogo temporário, para libertar reféns, estaremos prontos”, declarou Netanyahu durante uma coletiva de imprensa, afirmando que 20 dos 58 reféns – incluindo um soldado morto em 2014 – ainda em Gaza estavam “certamente vivos”.
“Todo o território da Faixa de Gaza estará sob controle do exército” israelense ao final da ofensiva de grande escala lançada por Israel, afirmou o chefe do governo.
Paralelamente, na quarta-feira, disparos israelenses interromperam uma visita de diplomatas estrangeiros organizada pela Autoridade Palestina em Jenin, na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967.
Os “tiros de advertência”, disparados segundo o Exército israelense porque a delegação havia “se desviado do itinerário aprovado”, provocaram indignação internacional. Netanyahu não comentou o ocorrido diante da imprensa.
Pressões externas
Na terça-feira, o Reino Unido anunciou a suspensão de suas negociações com Israel sobre um acordo de livre-comércio e a União Europeia decidiu reavaliar seu acordo de associação com Israel, com o apoio de 17 Estados-membros.
“As pressões externas não desviarão Israel de seu caminho para defender sua existência e segurança”, reagiu o Ministério das Relações Exteriores de Israel.
O ministério considerou que a reavaliação do acordo de associação refletia “uma total incompreensão da realidade complexa que Israel enfrenta” e encorajava “o Hamas a manter sua posição”.
O ataque do movimento palestino em 7 de outubro de 2023 causou a morte de 1.218 pessoas do lado israelense, em sua maioria civis, segundo contagem com base em dados oficiais. 251 pessoas foram sequestradas.
A campanha de represálias israelenses causou pelo menos 53.655 mortes em Gaza, em sua maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
Paralelamente, o Exército israelense anunciou na noite de quinta-feira ter interceptado um novo míssil disparado do Iêmen, de onde os rebeldes houthis frequentemente atacam o território israelense. Apoiado pelo Irã, os houthis afirmam agir em solidariedade aos palestinos.
O Ministério da Saúde do Líbano também informou na quarta-feira a morte de três pessoas em ataques israelenses no sul do país, onde Israel continua a alvejar regularmente o Hezbollah, apesar de um cessar-fogo em vigor desde novembro.
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